Partitura – Maio 2024
Maio anuncia-se como o mês das cerejas. Os amantes de piano, em particular, encontrarão nestas páginas uma expressão disso mesmo, ao perceberem que, “puxando” por um concerto onde o instrumento é protagonista, outros vêm agarrados – de mais a menos maduros, mas todos com o viço e a frescura da Primavera. Para se ter uma primeira ideia basta ler, aqui ao lado, a nossa Tónica, que percorre as várias propostas pianísticas do mês.
O espírito primaveril enquadra, como sempre, o programa ECHO Rising Stars, que a cada ano nos traz os nomes em que as maiores salas de concerto europeias apostam para estrelas do futuro. Podemos perspetivar mais um fim-de-semana vibrante, de gratifi cantes descobertas, as primeiras das quais – Sebastian Heindl (órgão) e Júlia Pusker (violino) – também inseridas no cartaz do Festival RTP/Antena 2, que reaparece em nova edição para mostrar ao vivo, com o contributo das nossas orquestras Sinfónica e Barroca, uma parte simbólica daquilo que todos os dias se escuta na rádio pública.
Mas a ideia de descoberta não se projeta apenas sobre o que é novo, como decerto confirmará quem venha assistir ao concerto de Ngulmiya, um líder cerimonial de terras remotas da Austrália cuja voz prodigiosamente evocativa, inscrita numa tradição de canto com milhares de anos, sugere a presença divina. É um momento que se adivinha intensamente espiritual e, para muitos, revelador de um tesouro demasiado tempo escondido do mundo, que faz na Casa da Música a estreia mundial em palco do seu segundo álbum.
Plano de destaque justifica, também, o concerto que assinala os 30 anos de carreira dos Blind Zero, umas das bandas portuguesas de maior projeção entre as que reconfiguraram o contexto do nosso pop-rock na década de 90. Outras operam hoje em idêntico sentido, pelo que vale a pena estar atento aos concertos no café, de entrada livre, com projetos esteticamente diversos que podem marcar o futuro.
O clarinetista português Carlos Ferreira interpreta o Concerto para clarinete de Mozart ao lado da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, que volta a apresentar-se, durante o mês, com outros solistas de prestígio, como a pianista Yumeka Nakagawa ou o harpista Xavier de Maistre. Já o Remix Ensemble faz do mesmo programa, preenchido por obras de compositores especialmente conscientes do fenómeno sonoro e das suas ilusões psicoacústicas, uma jornada dupla internacional: primeiro toca na Casa, depois em Colónia, no festival Acht Brücken.
Finalmente, merecem um olhar atento as propostas educativas, com concertos que prometem ficar na memória, como Piano Oceano ou Escola a Cantar. Mas há, claro, muitos outros focos de interesse que pode agora descobrir folheando estas páginas. Boa leitura.
ECHO RISING STARS
17-19 Abr
TÓNICA
UNIVERSO PIANO
Tem 88 teclas. 52 brancas, 36 pretas. E três pedais. É considerado o rei dos instrumentos, pela sua capacidade de reproduzir sozinho qualquer sinfonia escrita para uma orquestra inteira. Tem um lado heroico, podendo exigir ao músico qualidades sobre-humanas de virtuosismo transcendental. Pode representar uma tempestade ou uma batalha, mas também canta uma canção de embalar. E convida ao recolhimento, quando faz soar um noturno num registo da maior intimidade. Há quem tenha medo dele. Não só porque é difícil de tocar, e requer estudo e disciplina, mas também porque tem o poder de nos fazer chorar. Tanto dá o nome a livros transformados em sucessos de bilheteira da Sétima Arte, como fica esquecido num sótão em que ninguém sabe como lá entrou.
EXPERIMENTE A NOSSA JUKEBOX
Desde meados de abril, temos ao seu dispor, nos bares 1 e 2, uma jukebox de marca Wurlitzer, modelo Americana III, de 1969, com singles em vinil de artistas que passaram pela Casa da Música, cobrindo as mais variadas correntes estéticas, do rock à eletrónica, da pop à world, do jazz ao hip hop. Pode assim reviver memórias felizes ou simplesmente desfrutar de temas que deseje ouvir. Aparelho sonoro de patente norte-americana criado em fi nais do século XIX, a jukebox preponderou, na segunda década do século XX e ao longo do período da Grande Depressão, como fornecedor de entretenimento musical a bares e salões de baile, expandindo a sua popularidade por milhares de cafés de beira de estrada, restaurantes e outros locais de diversão.