Eliminatórias de janeiro a junho de 2025 · Finais em Julho de 2025
O futuro da música tem encontro marcado com a Sala 2. Future Jazz e Future Rocks são vertentes distintas de um misto entre festival e concurso, aberto à participação de bandas e grupos de escolas de música. Vale a pena abrir os ouvidos aos sons que vêm a caminho. Todos estão convidados a participar.
A ainda curta história da Casa da Música é também uma história de encontros – uns premeditados, outros furtuitos – dos quais resultaram tantas vezes novos projectos, cumplicidades artísticas, oportunidades para artistas portugueses, desafios irrecusáveis, partilhas felizes entre profissionais e amadores, entre a rua dos excluídos e a Casa sem muros, por vezes amizades. Cruzamentos.
Elemento fulcral nessa história de encontros e cruzamentos tem sido o recurso, sistemático e estrutural, a temas extramusicais nas narrativas da programação, uma forma de convidar e induzir o público a fazer um exercício de inter-relacionamento entre várias formas de Arte e Conhecimento, entre grandes temas da Humanidade e a Música, sejam eles socioculturais, históricos, religiosos, políticos, sazonais ou multidisciplinares. Esta é uma estratégia que, além de conter um potencial de enriquecimento cultural e cívico do público, pode ser uma ferramenta distintiva e comunicativa para chegar a públicos mais diversificados.
A criação dum fio condutor principal para cada temporada – um país, uma região ou uma entidade geográfico-cultural – e um programa de Compositores e Artistas em Residência, jovens e consagrados, levou-nos a um questionamento constante dos modos mais tradicionais de programação, com especial impacto na Orquestra Sinfónica, Remix Ensemble, Orquestra Barroca, Coro, Coro Infantil, Serviço Educativo e Digitópia, que estimulou a criatividade, convidou a uma pesquisa e atualização constantes do repertório e dos artistas. Enfim, que focou o trabalho de uma programação que se deseja comunicativa e comunicante.
Esta opção programática, multitemática e multifacetada – de que o próprio edifício é metáfora –, introduziu uma dinâmica única e em constante evolução que vai projectando a Casa da Música na posteridade, com plena consciência das suas responsabilidades mediadoras, educativas e sociais. Uma opção pela diversidade de géneros musicais – e dentro dos géneros musicais – tendo por base linhas de acção aderentes à missão de serviço público duma Instituição Cultural que, sempre atenta a novas realidades e preparando-se para novos desafios (societais, artísticos e tecnológicos), quer manter um rumo coerente e legível para as “partes interessadas”; que não se precipita face às voláteis mutações de um ecossistema cada vez mais dependente de modismos comunicacionais e lógicas de puro entretenimento. Com a eleição de Portugal como país-tema, a Temporada de 2024 marcou o fim de um ciclo, pensada como ponto culminante duma certa forma de articulação programática entre um discurso e uma prática, entre uma ideia e a sua realização.
Em 2025, a Casa da Música celebra o seu 20.º Aniversário, preparada para percorrer novos caminhos e para a criação de temas eventualmente mais abertos, conhecedores do passado e sempre interpeladores de futuro. Pedia-se uma nova narrativa que, por um lado, propusesse uma saudável, aberta e oportuna discussão sobre a génese do projecto artístico, o seu desenvolvimento – e suas controvérsias – e a realidade actual da Casa, e que, por outro, abrisse portas para novos paradigmas, novas inquietações, novos paradoxos.
O tema Caminhos Cruzados impôs-se como fio condutor da nova Temporada, com o seu quê de redundante (afinal, tantos caminhos da música, tantos artistas, tantas comunidades se têm todos os anos cruzado, na Casa e na Cidade), mas, talvez por isso, síntese legível e conceito aberto a uma multiplicidade de perspectivas da programação e seus modos de recepção.
Cruzamentos insuspeitos e inesperados, novas constelações temáticas transversais a todos os Agrupamentos Residentes e a vários géneros musicais, inspiradores de colaborações artísticas inéditas e propostas de novas viagens para o público e a comunidade, terão especial ênfase na programação de 2025. Os caminhos da música cruzam-se tanto em latitude e longitude quanto se podem cruzar nos mais variados géneros, assim como, noutro plano, se procura evidenciar o quanto a música erudita entronca em raízes populares e a música popular pode ir beber a fontes eruditas.
Nesse sentido, os próprios Compositores em Residência em 2025 encarnam, cada um a seu modo, essa ideia de cruzamento: Liza Lim (1966), australiana, filha de pais chineses, educada no canon musical ocidental, incorpora com fluidez discursiva e integridade artística preocupações ambientais, sonoridades da música aborígene ou da tradição chinesa. É uma das compositoras mais requisitadas no circuito internacional da última década. A sua música elaborada e expressiva cativa músicos e público pela sinceridade e por um domínio muito próprio de uma vasta paleta de cores, timbres e combinações rítmicas. Pela mão da Orquestra Sinfónica e do Remix Ensemble ouviremos um conjunto notável de obras inéditas em Portugal, incluindo um novo concerto para violoncelo, encomendado em parceria com grandes instituições internacionais, das quais se destacam o musica viva / Bayerischer Rundfunk e a Royal Concertgebouw Orchestra;
João Carlos Pinto (1998), tem-se revelado um dos criadores mais sólidos e originais da nova geração. Compositor, intérprete e performer multimédia, revelando um conhecimento consistente da tradição, é um exemplo do artista multidisciplinar neste início do segundo quarto de século.
Logo no festival de Abertura da Temporada, em janeiro, o público encontrará o enunciado e chaves de leitura de algumas das principais linhas programáticas de Caminhos Cruzados. Uma multitude de realidades culturais estará em diálogo nos programas dos concertos e em atividades paralelas. O principal fio condutor da temporada desfia-se ao longo de duas semanas de programação intensa e diversificada, durante as quais será dado a ouvir um conjunto significativo de obras em primeira audição em Portugal.
• A influência da cultura árabe na produção musical ibérica ficará enunciada no concerto de Abertura Oficial, com a Orquestra Sinfónica a interpretar obras bem conhecidas de Francisco de Lacerda, Manuel de Falla, Ravel e Rimski-Korsakoff;
• A Orquestra Barroca será dirigida pela primeira vez pelo cravista de origem iraniana Mahan Esfahani, uma estrela mundial da música barroca, num programa que evoca Berlim como centro de cruzamento de influências e artistas;
• A retrospectiva da obra de Liza Lim inicia-se com o Remix Ensemble na estreia nacional do “concerto” para ensemble e sheng, o fascinante órgão de boca chinês, que trará ao Porto o seu mais lídimo intérprete, Wu Wei. No mesmo concerto, o inter-relacionamento entre as músicas urbanas e contemporâneas na produção de Steve Reich estará patente na estreia em Portugal da sua última obra, fruto de uma encomenda conjunta da New York Philharmonic, da Casa da Música e de outras instituições internacionais;
• No segundo concerto da Orquestra Sinfónica cruzam-se (não sem alguma ironia) os clichés do exotismo imaginário da Índia às influências do jazz na música sinfónica alemã e americana. No centro do programa, outra obra brilhante de Liza Lim pela sua intérprete de referência, a renomada pianista Tamara Stefanovitch;
• Como Anoitecer um Pirilampo, Segundo o Dr. Qwrtzfgtlvskh é mais uma estreia dum espetáculo cénico para famílias onde, além da música e boa disposição que habitualmente estão presentes nas produções do Serviço Educativo, se cruza a botânica com o bel canto;
• O fascínio dos compositores do romantismo pela errância e pela cultura e folclore do povo cigano estará patente no concerto com que o Coro Casa da Música encerrará o festival inaugural.
Janeiro dar-nos-á ainda a abertura do Ciclo de Piano, dos Programas Future Rocks, Future Jazz, Novos Valores da Música Erudita, Novos Valores do Jazz e Novos Valores do Fado e da Guitarra Portuguesa, e ainda da 16.ª edição do Curso Livre de História da Música.
Muitos outros exemplos de diálogos de possibilidades infinitas – oportunos como nunca – irão emergindo ao longo do ano, em boa medida induzidos por obras encomendadas ou simplesmente inéditas nos palcos portugueses. Alguns momentos ilustrativos, para além dos já citados, serão:
• Last Spring in Toronto, a única obra conhecida para gamelão e orquestra, do norte-americano James Tenney. Uma verdadeira raridade e uma oportunidade única que poucas salas de concerto podem proporcionar;
• Hommage à Klaus Nomi, da austríaca Olga Neuwirth; uma “recomposição” para ensemble e voz de canções do repertório de Klaus Nomi, o contratenor pop que se tornou um ícone do início dos anos 80;
• A estreia da nova obra de Igor C Silva para orquestra, electrónica e quatro improvisadores da área do jazz;
• A estreia mundial do primeiro concerto da história para sintetizador e orquestra, encomendado pela Casa da Música ao compositor, produtor e DJ Gabriel Prokofiev, autor das mais bem conseguidas obras techno-sinfónicas;
• O rock vanguardista do génio iconoclasta Frank Zappa nas estantes do Remix Ensemble, dirigido por Peter Rundel, o maestro da estreia da obra de culto Yellow Shark;
• Os concertos do ciclo À Volta do Barroco, em que se cruzam com critério o contemporâneo e o barroco.
Das novas constelações temáticas da Temporada haverá ainda que enunciar Mulheres na Música (março), 20.º Aniversário da Casa da Música (abril) e Repercussões (setembro), todas pensadas para estimular o cruzamento de géneros musicais, culturas, tradições, fronteiras físicas ou mentais.
Mantêm-se as Narrativas “históricas” na grelha da programação, Invicta.Música.Filmes (fevereiro), Rito da Primavera (maio), Verão da Casa (junho/julho/setembro), Outono em Jazz (outubro), À Volta do Barroco (novembro) e Música para o Natal (dezembro).
Os tradicionais Concertos de Páscoa serão neste ano integrados no Ciclo irrepetível do 20.º Aniversário da Casa da Música, com uma programação que promete grande música, reflexão, alguma provocação e festa. Até porque em 2025 se celebram dois outros momentos que deram um novo rumo à vida musical portuguesa nas vésperas do Séc. XXI: os 25 anos do Remix Ensemble e os 25 anos da formação sinfónica da nossa Orquestra. Fica o convite para um mergulho vagaroso e atento nesta agenda da programação 2025, com a forte convicção de que aqui encontrarão todos os motivos para vir com ainda maior frequência à Casa da Música. Sejam sempre muito bem-vindos!
António Jorge Pacheco O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
ASSINATURAS 2025
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Música da Casa · 09 – 15.12
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Conheça a programação da Casa da Música para a semana de 09 a 15 de dezembro.
Música da Casa · 02 – 08.12
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Conheça a programação da Casa da Música para a semana de 02 a 08 de dezembro.
Venham Mais 300 · MINIdocumentário
Venham Mais 300 · MINIdocumentário
O minidocumentário “Venham + 300” debruça-se sobre a criação do espetáculo com o mesmo nome, pelo Serviço Educativo Casa da Música, no âmbito das comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril de 1974. Com música de José Afonso, estiveram envolvidos alunos de 60 escolas vocacionais de música e de bandas filarmónicas de todo o país. As obras contaram com arranjos de alunos de Composição da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE). No final a melhor peça foi distinguida com o Prémio de Composição Casa da Música/ESMAE 2024. Em palco esteve uma Orquestra de 100 Flautas, 100 Clarinetes e 100 Saxofones, bem como um naipe de 20 Percussionistas.
Venham mais 300 Orquestra de 100 Flautas, 100 Clarinetes e 100 Saxofones Hélder Magalhães direção musical Alunos de instrumento do ensino vocacional interpretação
Venham mais 300 – 24 abril 2024
Cruzamentos Felizes
Cruzamentos Felizes
No horizonte já espreita um novo ano e com ele lançam-se desejos aos quatro ventos para mais um ciclo. Na Casa da Música, cada uma destas passagens rituais traz também consigo a entrada numa nova temporada de concertos, recheada de propostas originais e unidas por um fio que nos guiará durante a próxima volta ao Sol.
Se, neste ano que agora termina, Portugal inspirou a programação da Casa, completamente atravessada por grandes obras de compositores nacionais, com a presença de solistas e maestros portugueses, 2025 desenha-se a partir do mote Caminhos Cruzados, destacando encontros inusitados entre estilos e geografias, mostrando como música erudita e popular se influenciam mutuamente. Os Compositores em Residência são um reflexo dessa ideia. Liza Lim (1966), australiana de origem chinesa, combina sonoridades aborígenes, tradições chinesas e cânones ocidentais, enquanto João Carlos Pinto (1998), compositor e performer multimédia, é um dos representantes da nova geração de artistas multidisciplinares, com sólida conexão à tradição.
A programação de 2025 convida o público a explorar novos horizontes através de surpreendentes cruzamentos musicais. Entre as novidades, destacam-se festivais que promovem diálogos entre géneros musicais, culturas e tradições, rompendo fronteiras físicas e mentais, como Mulheres na Música (março), 20.º Aniversário da Casa da Música (abril) e Repercussões (setembro). Paralelamente, as narrativas históricas continuam a enriquecer a temporada: Invicta.Música.Filmes (fevereiro), Rito da Primavera (maio), Verão da Casa (junho, julho e setembro), Outono em Jazz (outubro), À Volta do Barroco (novembro) e Música para o Natal (dezembro).
2025 será também um ano marcado por celebrações. Desde logo, a comemoração dos 20 anos da Casa da Música. A data redonda não merece nada menos do que um mês inteiro de festa, com concertos dos vários géneros musicais, atividades educativas e ainda um ciclo de conferências. Tudo em abril. Alguns meses depois, em outubro, o Remix Ensemble é também chamado a soprar as velas: são vinte e cinco. A data não podia deixar de ser assinalada sem uma estreia nacional, neste caso de uma nova versão para ensemble do emblemático ciclo de canções A Bela Moleira. No mesmo mês, celebram-se também 25 anos da passagem da Orquestra Nacional do Porto à dimensão sinfónica. A data assinala-se com três concertos que ilustram as principais linhas da identidade artística do maior e mais antigo agrupamento residente da Casa.
Nesta temporada, que se prevê tão vibrante, desenhámos um programa de assinaturas ainda mais abrangente e variado, com 13 séries exclusivas de concertos meticulosamente combinados para proporcionar experiências inesquecíveis ao longo do ano inteiro.
Entre as novas assinaturas, destacam-se: Concertos Triplos, com cinco programas da Orquestra Sinfónica, Orquestra Barroca e Remix Ensemble, que vão dar prova do talento não de dois, mas de três solistas, através de alguns dos mais notáveis exemplares desta versão de concerto tão peculiar. Romantismo na Música, uma jornada pelas formas e ideias mais emblemáticas da música romântica, com um recital do pianista Yoav Levanon, e concertos com três dos nossos agrupamentos – Coro, Remix Ensemble e Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Grandes Concertos de Tchaikovski, que inclui quatro programas dedicados a obras-primas do compositor russo e conta com reputados solistas convidados: Júlia Pusker (violino), Yeol Eum Son (piano), Claire Huangci (piano) e Pavel Gomziakov (violoncelo).
Nesta temporada tão especial, queremos que continue a fazer parte da história que aqui construímos diariamente. São já 20 anos desta Casa que se tornou um marco arquitetónico e musical da nossa cidade. Mas uma casa só vibra com gente dentro. E esta precisa de ser tocada a várias mãos – pelos que aqui trabalham nas suas mais variadas áreas, mas também pelos que nos visitam diariamente – sozinhos, na companhia de amigos, filhos e até netos. Contamos consigo em 2025. Até lá!
E assim chegamos ao fim de um ano especial na Casa da Música: o ano de Portugal. Da polifonia renascentista aos dias de hoje, os nossos agrupamentos residentes deram vida a algumas das melhores páginas da literatura musical portuguesa, na companhia de maestros e solistas de craveira internacional. Por cá se ouviram também obras de grandes compositores que, vindos de outros países, ao longo dos tempos aqui foram deixando marca e património artístico. Criaram-se contextos para que alguns dos melhores intérpretes nacionais se evidenciassem no confronto com partituras da maior exigência. Celebrou-se, ao abrigo do festival Música & Revolução e em programas carregados de simbolismo, o 50.º aniversário do 25 de Abril. Nos mais diversos géneros musicais, entre nomes consagrados e jovens promessas, passaram pelos nossos palcos inúmeros talentos portugueses. É caso para dizer, em jeito de brincadeira evocativa, “foi bonita a festa, pá”.
A verdade, porém, é que antes do fim da “festa” outras “festas” se aproximam – e, na Casa da Música, são já tradicionais os Concertos de Natal, sempre muito apreciados pelo nosso público. Este ano, a comemoração da quadra culmina com aquela que é, provavelmente, a obra coral mais famosa de todos os tempos, o Messias de Händel, numa interpretação que reúne a Orquestra Barroca e o Coro. Antes disso, também em dois concertos, a Orquestra Sinfónica apadrinha a estreia entre nós da prestigiada maestrina búlgara Delyana Lazarova, num programa que inclui dois contos de Natal com música de Rimsky-Korsakoff. São momentos imperdíveis da última narrativa do ano, Música para o Natal, cujo mote é dado pelo nosso agrupamento mais novo, o Coro Infantil.
Já o Remix Ensemble despede-se de 2024 no concerto final de uma edição especial da Academia com o seu nome, sob orientação da principal figura da chamada “música con. creta instrumental”, Helmut Lachenmann, e onde se cumpre a estreia mundial de uma obra da Jovem Compositora em Residência, Sara Ross.
Noutras áreas, dentro de uma oferta diversificada merecem destaque os novos talentos nacionais. É o caso dos projetos finalistas das vertentes jazz e rock do festival/ concurso Future, que este mês disputam a vitória, e de um concerto em que os alunos da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo põem à prova a sua escrita para big band. Dezembro convoca ainda dois nomes portugueses consagrados que voltam a encerrar as respetivas temporadas na Casa da Música – Tiago Bettencourt e UHF – e, como cereja no topo do bolo, pela voz inconfundível de Paulo de Carvalho, traz-nos à memória uma pergunta batida: e depois do adeus?
No horizonte já espreita um novo ano e com ele lançam-se desejos aos quatro ventos para mais um ciclo. Na Casa da Música, cada uma destas passagens rituais traz também consigo a entrada numa nova temporada de concertos, recheada de propostas originais e unidas por um fio que nos guiará durante a próxima volta ao Sol.
Se, neste ano que agora termina, Portugal inspirou a programação da Casa, completamente atravessada por grandes obras de compositores nacionais, com a presença de solistas e maestros portugueses, 2025 desenha-se a partir do mote Caminhos Cruzados, destacando encontros inusitados entre estilos e geografias, mostrando como música erudita e popular se influenciam mutuamente. Os Compositores em Residência são um reflexo dessa ideia. Liza Lim (1966), australiana de origem chinesa, combina sonoridades aborígenes, tradições chinesas e cânones ocidentais, enquanto João Carlos Pinto (1998), compositor e performer multimédia, é um dos representantes da nova geração de artistas multidisciplinares, com sólida conexão à tradição.
Paulo de Carvalho – A senha e a sina do 25
Em 1974, a senha para o 25 de Abril foi a canção “E depois do adeus”, celebrizada por Paulo de Carvalho, compositor e intérprete que faz 60 anos de carreira, ou seja, mais 10 do que a Revolução dos Cravos – e, como ele próprio assinalou num dos seus vários clássicos para a música portuguesa, “10 anos é muito tempo”.
São referências destas que nos ligam ao significado da liberdade, ao seu custo, a quem por ela arriscou a vida. Nomes como Paulo de Carvalho, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Ary dos Santos, Fausto, Carlos Mendes, Fernando Tordo, ancoraram o ideal da liberdade a valores como o bem comum, a coragem ou a solidariedade. E é por isso, além da música, que o concerto com que Paulo de Carvalho celebra os seus 60 anos de carreira – cujo título, “E depois do adeus???”, adquire o duplo sentido de relembrar o início da libertação nacional e questionar o que aí virá quando as referências artísticas da luta desparecerem – deve ser visto como um momento simbolicamente especial.
Em 1974, a senha para o 25 de Abril foi a canção “E depois do adeus”, celebrizada por Paulo de Carvalho, compositor e intérprete que faz 60 anos de carreira, ou seja, mais 10 do que a Revolução dos Cravos – e, como ele próprio assinalou num dos seus vários clássicos para a música portuguesa, “10 anos é muito tempo”.
São referências destas que nos ligam ao significado da liberdade, ao seu custo, a quem por ela arriscou a vida. Nomes como Paulo de Carvalho, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Ary dos Santos, Fausto, Carlos Mendes, Fernando Tordo, ancoraram o ideal da liberdade a valores como o bem comum, a coragem ou a solidariedade. E é por isso, além da música, que o concerto com que Paulo de Carvalho celebra os seus 60 anos de carreira – cujo título, “E depois do adeus???”, adquire o duplo sentido de relembrar o início da libertação nacional e questionar o que aí virá quando as referências artísticas da luta desparecerem – deve ser visto como um momento simbolicamente especial.
A sustentá-lo há ainda ao facto de Paulo de Carvalho ter sido um músico de grande versatilidade, numa altura em que o ímpeto revolucionário obstava, por vezes, e paradoxalmente, à exploração de uma liberdade estética capaz de olhar para a música, acima de qualquer outra coisa, como arte de organização da matéria sonora.
Lembremo-nos dos Sheiks, “os Beatles portugueses”, fundados em meados dos anos 60; lembremo-nos de “Lisboa, Menina e Moça” ou “os Putos”, temas alcandorados a ícones do fado na voz de Carlos do Carmo; lembremo-nos das vitórias no Festival da Canção, como intérprete e compositor; lembremo-nos dos discos de ouro; lembremo-nos de “Flor sem tempo”, “Nini dos meus 15 anos”, “Olá, então como vais?” e tantos outros clássicos; lembremo-nos das improvisações vocais e da incorporação de linguagens do jazz na criação musical; lembremo-nos até, logo após o 25 de Abril, da autoria do hino do Partido Popular Democrático (PPD), a convite de Francisco Sá Carneiro – “pensava que era um partido de esquerda”, justificaria mais tarde o artista.
Por coincidência feliz, um dos concertos deste mês da nossa Orquestra Sinfónica tem como título “E depois do adeus”, o que, corroborando a importância de nos despedirmos condignamente de um ano marcante para Portugal, País-Tema de 2024 na Casa da Música, sublinha o valor da memória e o dever de gratidão para com quem enriqueceu o património artístico e humano deste jardim à beira-mar plantado.
Na noite de 24 de abril de 74, a voz de Paulo de Carvalho foi a senha para o 25. Cinquenta anos depois, a Casa da Música faz com que a história se repita: a mesma voz, o adeus a 2024, a senha para o 25.
Um Adeus Português
Um Adeus Português
E assim chegamos ao fim de um ano especial na Casa da Música: o ano de Portugal. Da polifonia renascentista aos dias de hoje, os nossos agrupamentos residentes deram vida a algumas das melhores páginas da literatura musical portuguesa, na companhia de maestros e solistas de craveira internacional. Por cá se ouviram também obras de grandes compositores que, vindos de outros países, ao longo dos tempos aqui foram deixando marca e património artístico. Criaram-se contextos para que alguns dos melhores intérpretes nacionais se evidenciassem no confronto com partituras da maior exigência. Celebrou-se, ao abrigo do festival Música & Revolução e em programas carregados de simbolismo, o 50.º aniversário do 25 de Abril. Nos mais diversos géneros musicais, entre nomes consagrados e jovens promessas, passaram pelos nossos palcos inúmeros talentos portugueses. É caso para dizer, em jeito de brincadeira evocativa, “foi bonita a festa, pá”. A verdade, porém, é que antes do fim da “festa” outras “festas” se aproximam – e, na Casa da Música, são já tradicionais os Concertos de Natal, sempre muito apreciados pelo nosso público. Este ano, a comemoração da quadra culmina com aquela que é, provavelmente, a obra coral mais famosa de todos os tempos, o Messias de Händel, numa interpretação que reúne a Orquestra Barroca e o Coro. Antes disso, também em dois concertos, a Orquestra Sinfónica apadrinha a estreia entre nós da prestigiada maestrina búlgara Delyana Lazarova, num programa que inclui dois contos de Natal com música de Rimsky-Korsakoff. São momentos imperdíveis da última narrativa do ano, Música para o Natal, cujo mote é dado pelo nosso agrupamento mais novo, o Coro Infantil.
Já o Remix Ensemble despede-se de 2024 no concerto final de uma edição especial da Academia com o seu nome, sob orientação da principal figura da chamada “música concreta instrumental”, Helmut Lachenmann, e onde se cumpre a estreia mundial de uma obra da Jovem Compositora em Residência, Sara Ross.
Noutras áreas, dentro de uma oferta diversificada merecem destaque os novos talentos nacionais. É o caso dos projetos finalistas das vertentes jazz e rock do festival/ concurso Future, que este mês disputam a vitória, e de um concerto em que os alunos da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo põem à prova a sua escrita para big band. Dezembro convoca ainda dois nomes portugueses consagrados que voltam a encerrar as respetivas temporadas na Casa da Música – Tiago Bettencourt e UHF – e, como cereja no topo do bolo, pela voz inconfundível de Paulo de Carvalho, traz-nos à memória uma pergunta batida: e depois do adeus?
Música da Casa · 18 – 24.11
Música da Casa · 18 – 24.11
Conheça a programação da Casa da Música para a semana de 18 a 24 de novembro.