Partitura · Janeiro 2025

Bem-vindos a 2025, o ano em que a Casa da Música celebra 20 primaveras. Ao longo deste tempo, demos palco a artistas e projetos das mais variadas épocas, geografias, culturas e correntes estéticas. Um legado que nos honra e um ponto de partida para o desenho da nova temporada, cujo primeiro festival, Caminhos Cruzados, celebra justamente o encontro da diversidade sob o denominador comum da música.

O Concerto de Ano Novo leva-nos numa viagem pelos salões vienenses, com as suas valsas, polcas e marchas sempre sedutoras e animadas, definindo o tom ideal para encarar mais uma volta ao sol.

Francisco Costa e Yoav Levanon, dois jovens talentos, são os protagonistas dos recitais que iniciam o Ciclo Piano, ambos em janeiro: o primeiro, como habitualmente um pianista português, abre a temporada com um concerto preenchido por música russa do século XX, ao passo que o segundo, um prodígio israelita que muitos apontam como um dos maiores nomes do futuro no instrumento, apresenta um programa de grande virtuosismo, dando-nos a escutar obras de Bach, Chopin e Liszt.

Os amantes de piano podem ainda apreciar a qualidade musical de Levanon noutro contexto, ao lado da nossa Orquestra Sinfónica, sob a direcção da aclamada maestrina russa Anna Rakitina, interpretando outra partitura de elevada exigência técnica, a Rapsódia sobre um tema de Paganini, de Rachmaninoff. Com uma presença dupla no festival Caminhos Cruzados, de que as páginas a seguir (Tónica) nos falam mais em pormenor, o decano dos agrupamentos residentes da Casa encerra o mês ao som de sinfonias de três gigantes: Mozart, Mendelssohn e Brahms.

De áreas diferentes da música chegam-nos nomes como o sempre desconcertante David Bruno, que apresenta o seu novo álbum, Paradise Village; o trio GoGo Penguin, munido do emotivo e cinematográfico Everything is going to be OK, disco que funde jazz, eletrónica, hip hop, rock e música clássica; e o projeto Wanderer Songs, ou Cantares do Andarilho, que nos propõe uma reinterpretação artística do legado musical e humano de Zeca Afonso.

Vale a pena também descobrir as atividades educativas agendadas para este primeiro mês do ano, estar atento aos concertos escolares e conhecer o roteiro do 16.º Curso Livre de História da Música, cujo módulo inicial decorre todo em janeiro, explorando o tema da evolução do piano ao longo dos séculos.

Posto isto, agora é ir pelas páginas desta Partitura e, entre as muitas e diversificadas propostas que lhe apresentamos, fazer as suas escolhas. Boa leitura e um próspero ano novo, de preferência com a melhor música, na nossa companhia.

TÓNICA

Desde 2007, a Casa da Música abre as portas para que um compositor faça desta a sua casa também – chamamos-lhe o “Compositor em Residência”. Assim, durante um ano inteiro, a programação procura criar um retrato sonoro da figura escolhida – atravessando as suas várias etapas criativas –, sem se esquecer de estimular e apoiar a composição de novas obras que são depois estreadas pelos agrupamentos residentes. Tudo isto num ambiente que proporciona uma troca intensa e rica entre compositor, intérprete e público. Quem tem acompanhado a Casa desde então, já se terá cruzado pelos corredores ou na Sala Suggia com figuras como Emmanuel Nunes, Kaija Saariaho, Pascal Dusapin, mas também Sir Harrison Birtwistle, Rebecca Saunders, Vasco Mendonça, entre muitos outros. Em ano de Caminhos Cruzados, entregamos a chave a Liza Lim, australiana que viveu no Brunei, sudeste da Ásia, e estudou também em Amesterdão. Compositora, professora e investigadora, Liza Lim foca-se na criação de música baseada em práticas colaborativas e transculturais.

Amor em Tempos de Construção

O que era para ser uma moradia de cerca de 200 m2 é hoje um imponente edifício de cariz cultural incluído pelo jornal inglês The Times entre as cinco obras mais representativas da arquitetura mundial na primeira década do século XXI. A história não será estranha a quem acompanhou o processo de construção da Casa da Música, uma vez que dela nunca se fez segredo: Rem Koolhaas, autor do projeto, foi mesmo o primeiro a contá-la. Afinal, se a transparência – entendida como continuidade visual entre o interior e o exterior – era a principal caraterística do edifício, havia que ser coerente e não esconder a sua origem remota.