Liza Lim – Compositora em Residência

Liza Lim
Liza Lim

Desde 2007, a Casa da Música abre as portas para que um compositor faça desta a sua casa também – chamamos-lhe o “Compositor em Residência”. Assim, durante um ano inteiro, a programação procura criar um retrato sonoro da figura escolhida – atravessando as suas várias etapas criativas –, sem se esquecer de estimular e apoiar a composição de novas obras que são depois estreadas pelos agrupamentos residentes. Tudo isto num ambiente que proporciona uma troca intensa e rica entre compositor, intérprete e público. Quem tem acompanhado a Casa desde então, já se terá cruzado pelos corredores ou na Sala Suggia com figuras como Emmanuel Nunes, Kaija Saariaho, Pascal Dusapin, mas também Sir Harrison Birtwistle, Rebecca Saunders, Vasco Mendonça, entre muitos outros. Em ano de Caminhos Cruzados, entregamos a chave a Liza Lim, australiana que viveu no Brunei, sudeste da Ásia, e estudou também em Amesterdão. Compositora, professora e investigadora, Liza Lim foca-se na criação de música baseada em práticas colaborativas e transculturais.

Beleza, fúria e ruído, conexão ecológica e linhagens espirituais femininas estão no centro de obras recentes como Sex Magic (2020) para a flautista Claire Chase; Multispecies Knots of Ethical Time (2023) para performer gestual, filme e ensemble; e particularmente o ciclo orquestral Annunciation Triptych: Sappho, Mary, Fatimah (2019-22), que será integralmente apresentado na Casa da Música, em estreia nacional, em três concertos ao longo da temporada. Lim interessa-se por um género de criatividade plural, não centrada no humano, e por questões especulativas sobre a senciência das coisas. A sua peça em grande escala Extinction Events and Dawn Chorus (2018) – apresentada na Casa da Música em 2023 – teve especial impacto internacional e propõe uma espécie de audição ecologicamente informada em torno dos domínios para lá do humano. Nesse âmbito enquadramse outras obras, como How forests think, para ensemble e sheng; World as Lover, World as Self, para piano e orquestra de câmara; ou Speak, be silent, para violino e ensemble. Também estas serão apresentadas entre nós em estreia nacional, completando-se a retrospectiva da obra de Liza Lim com Songs found in dream e A sutured world – esta última uma encomenda da Casa da Música em parceria com um conjunto de instituições internacionais.

Desde que foi Compositora em Residência na Orquestra Sinfónica de Sydney, em 2005 e 2006, Liza Lim tem recebido inúmeras encomendas de muitas das orquestras e dos ensembles mais prestigiados do mundo, e a sua música é interpretada em importantes salas e festivais. É a primeira música premiada com o Australian Research Council Laureate Fellowship, para liderar um programa de cinco anos (2025-29) destinado a encorajar o compromisso com a emergência climática e temas sociais através da música. Está ligada também a iniciativas do programa de igualdade de género do Conservatório de Sydney, “Composing Women”, que tem alcançado grande impacto na música australiana. Orienta masterclasses de composição um pouco por todo o mundo. Liza Lim reinventa continuamente a sua linguagem e prática musical através de uma obra que se estende dos solos intimistas e colaborativos às obras orquestrais, tendo ainda escrito cinco óperas. A sua discografia abrange 40 CD, incluindo 10 álbuns monográficos, vários deles incluídos nas listas de Gravações do Ano da revista The New Yorker.