Partitura – Novembro 2024
De obras-primas do Barroco às mais diversas criações do presente, a programação de novembro é tão dinâmica e ziguezagueante que poderia partilhar com a Orquestra Sinfónica o título de um dos seus concertos: Montanha Russa. Uma nova edição do Misty Fest dá o mote, com nomes sugestivos em áreas como a pop, a eletrónica, o rock, a world, o jazz ou a música experimental. Do festival À Volta do Barroco, que reúne quatro dos nossos agrupamentos residentes, fala-nos em pormenor a Tónica. São estes, digamos, os dois extremos a que o elástico temporal se agarra para circunscrever toda a música com que a Casa espera por si em novembro.
A integral de concertos de Prokofieff prossegue pela mão da Orquestra Sinfónica, na já citada Montanha Russa, que serpenteia entre música dos seus compatriotas Chostakovitch e Tchaikovski. À Sinfonia “Patética”, deste último, está consagrado mais um concerto comentado, onde a musicóloga Helena Marinho nos ajuda a desfiar o enigma em torno de uma história que o compositor russo quis que ficasse para sempre oculta. Dos programas da Sinfónica cabe também destacar um que alia a Sinfonia Lírica, de Alexander von Zemlinsky (com textos cantados retirados de um romance de Rabindranath Tagore), à Noite Transfigurada, do seu mais ilustre discípulo, Arnold Schoenberg; e ainda outro, a encerrar o mês, em que o épico Peer Gynt de Edvard Grieg e a escrita delicada de Lili Boulanger se unem a obras do nosso tempo, assinadas por Carlos Caires e Magnus Lindberg. O Ciclo Piano traz-nos a estreia na Casa da Música de uma lenda russa, Olga Kern, pianista de classe mundial que interpreta o seu compositor de eleição, Sergei Rachmaninoff, entre outros génios eternos do repertório. Já o Ciclo Jazz investe a Orquestra Jazz de Matosinhos num tributo àquele que muitos consideravam ser, até ao seu falecimento, em 2020, o maior especialista em música brasileira: Zuza Homem de Mello. Um simbólico e proveitoso abraço, mais um, entre Portugal e o Brasil. Noutros contextos, há nomes que fazem soar campainhas em qualquer lugar do mundo, caso dos Tindersticks ou de Richard Bona. A banda de Stuart Staples apresenta o seu novo e 14.º álbum, Soft Tissue (o que não a dispensa, claro, de revisitar grandes êxitos de carreira, frente a uma legião de fãs sempre fiel e entusiasmada), ao passo que o baixista e compositor camaronês chega para brindar o público com a musicalidade, a energia e o ritmo que lhe são característicos. Poderíamos igualmente salientar a vinda do uruguaio Jorge Drexler, que celebra 30 anos de uma carreira oscarizada e cheia de Grammys latinos, num concerto íntimo em formato voz e guitarra.
Como sempre, vale muito a pena estarmos atentos às atividades do Serviço Educativo, quer sejam espetáculos, oficinas ou formações, e não perder também de vista os concertos de entrada livre no café, onde bandas e artistas emergentes dão prova do seu valor.
MISTY FEST
01 Nov – 01 Dez
TÓNICA
À VOLTA DO BARROCO
As palavras contam sempre – de onde vêm, como foram e são interpretadas, como são escritas, usadas, transformadas em armas, proibidas ou banalizadas. Não se sabe ao certo a origem da palavra ‘barroco’, como nunca se sabe muito bem os caminhos que fazem as línguas quando o seu nomadismo é honrado e o erro é uma virtude – o erro da errância, claro está. O termo terá vindo da Península Ibérica, muito possivelmente de Portugal e através do árabe, onde designava uma pérola de forma irregular. O ‘barroco’, enquanto termo que serve para designar o período das artes que compreende o século XVII e metade do século XVIII, estava longe de ser conhecido pelos artistas da época.
O ELIXIR DA JUVENTUDE DE ZUZA HOMEM DE MELLO
João Barradas é um dos mais conceituados e amplamente reconhecidos acordeonistas europeus da atualidade, movendo-se entre a música clássica, o jazz e a música improvisada. Venceu alguns dos mais prestigiados concursos internacionais, incluindo o Troféu Mundial de Acordeão (duas vezes), a Coupe Mondiale, o Concurso Internacional de Castelfidardo e o Concurso Internacional Okud Istra (Croácia). Figura de topo do acordeão contemporâneo, estreou dezenas de peças escritas para ele ao longo dos anos. Além disso, realiza também trabalho de pesquisa, transcrição e composição de música original para o seu instrumento. Foi o primeiro acordeonista de sempre a apresentar-se em recital em salas como a Konzerthaus de Viena, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Festival d’Aix-en-Provence, sendo solista convidado das mais prestigiadas orquestras.