RAVEL: 150 ANOS DE UM SOM IRRESISTÍVEL

Quem nunca se cruzou com a música de Ravel?

É provável que reconheça um pouco do famosíssimo Boléro, mesmo que não se recorde de onde e que não lhe associe um título ou uma autoria, tal é a sua difusão no cenário quotidiano. A grande ironia é que a mais célebre peça de Ravel é também uma das mais sui generis do seu catálogo – um exercício de orquestração, acima de tudo –, que não representa de todo o imaginário musical do seu autor.

Partitura autógrafa, sem data [1928], disponível em IMSLP

Neste 150º aniversário de Ravel, convidamos o público a deixar-se levar por alguns dos lugares mais encantadores do mundo único, pessoal e irresistível que nos deixou.

Nascido em território basco no sudoeste de França, Maurice Ravel (1875-1937) foi o mais proeminente compositor francês da sua geração, contemporâneo de revolucionários como Schoenberg ou Stravinski. Nas narrativas mais simplificadas sobre a história da música, é habitualmente referido a par de Debussy como exemplo da chamada música impressionista. Contudo, o perfil musical de Ravel distingue-se pelo seu carácter invulgarmente eclético, reunindo as mais diversas referências sob a superfície sonora irrepreensivelmente polida e sempre elegante do seu som.

Playlist especial: Ravel – 150 anos!

Outros apelos estéticos se juntam a estes, numa postura assimiladora da qual não brota conflito. Vénias à música de outros tempos aproximam Ravel das tendências neoclássicas que despontavam então (a homenagem à tradição cravística francesa do século XVIII em Le Tombeau de Couperin2, as reminiscências renascentistas na Pavana para uma Infanta Defunta3 ). Mas nem elas fizeram Ravel alhear-se das tendências mais inovadoras do seu tempo (ouça-se a desconcertante Frontispice de 1918 para 2 pianos a cinco mãos (!) ou as surpreendentes Chansons Madécasses).

Como arte sincera, livre e inspirada que é, a música de Ravel tem conquistado ouvidos atentos em todas as épocas, alimentando imaginários nos mais diversos quadrantes – de figuras cimeiras do seu tempo, como Stravinski, a músicos ecléticos dos nossos dias, como o português Mário Laginha.

Que melhor maneira de dar os parabéns a este artesão de sons do que escutar uma das suas pérolas? Na Casa da Música, a 07 de fevereiro, 14 de março e 16 de março.

1 · Poderá ouvir Ma Mère l’Oye no concerto “Uma Noite de Amor” (14 de março) ou no concerto comentado “Contos de Ravel” (16 de março).

2 · Poderá ouvir Le Tombeau de Couperin no concerto “Parabéns, Ravel!” (07 de fevereiro).

3 · Poderá ouvir a Pavana no concerto “Parabéns, Ravel!” (07 de fevereiro).