Um Adeus Português
E assim chegamos ao fim de um ano especial na Casa da Música: o ano de Portugal. Da polifonia renascentista aos dias de hoje, os nossos agrupamentos residentes deram vida a algumas das melhores páginas da literatura musical portuguesa, na companhia de maestros e solistas de craveira internacional. Por cá se ouviram também obras de grandes compositores que, vindos de outros países, ao longo dos tempos aqui foram deixando marca e património artístico. Criaram-se contextos para que alguns dos melhores intérpretes nacionais se evidenciassem no confronto com partituras da maior exigência. Celebrou-se, ao abrigo do festival Música & Revolução e em programas carregados de simbolismo, o 50.º aniversário do 25 de Abril. Nos mais diversos géneros musicais, entre nomes consagrados e jovens promessas, passaram pelos nossos palcos inúmeros talentos portugueses. É caso para dizer, em jeito de brincadeira evocativa, “foi bonita a festa, pá”. A verdade, porém, é que antes do fim da “festa” outras “festas” se aproximam – e, na Casa da Música, são já tradicionais os Concertos de Natal, sempre muito apreciados pelo nosso público. Este ano, a comemoração da quadra culmina com aquela que é, provavelmente, a obra coral mais famosa de todos os tempos, o Messias de Händel, numa interpretação que reúne a Orquestra Barroca e o Coro. Antes disso, também em dois concertos, a Orquestra Sinfónica apadrinha a estreia entre nós da prestigiada maestrina búlgara Delyana Lazarova, num programa que inclui dois contos de Natal com música de Rimsky-Korsakoff. São momentos imperdíveis da última narrativa do ano, Música para o Natal, cujo mote é dado pelo nosso agrupamento mais novo, o Coro Infantil.
Já o Remix Ensemble despede-se de 2024 no concerto final de uma edição especial da Academia com o seu nome, sob orientação da principal figura da chamada “música concreta instrumental”, Helmut Lachenmann, e onde se cumpre a estreia mundial de uma obra da Jovem Compositora em Residência, Sara Ross.
Noutras áreas, dentro de uma oferta diversificada merecem destaque os novos talentos nacionais. É o caso dos projetos finalistas das vertentes jazz e rock do festival/ concurso Future, que este mês disputam a vitória, e de um concerto em que os alunos da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo põem à prova a sua escrita para big band. Dezembro convoca ainda dois nomes portugueses consagrados que voltam a encerrar as respetivas temporadas na Casa da Música – Tiago Bettencourt e UHF – e, como cereja no topo do bolo, pela voz inconfundível de Paulo de Carvalho, traz-nos à memória uma pergunta batida: e depois do adeus?