O ELIXIR DA JUVENTUDE DE ZUZA HOMEM DE MELLO
Zuza Homem de Mello era apaixonado por música. E, como correr por gosto não cansa, cultivou e celebrou essa paixão durante a vida inteira, até aos 87 anos, quando faleceu vítima de um enfarte do miocárdio. Dias antes havia concluído a biografia completa de João Gilberto, o seu nono livro. Todos eles são carregados de vida, de música, de Brasil. Fontes de prazer e ensinamento. “A música rejuvenesce. Olha aí a prova”, dizia Zuza, em 2018, apontando para si, numa entrevista. Era bem-humorado, simpático, de uma delicadeza rara, e os seus olhos brilhavam ao falar sobre música. Dedicou-lhe tudo: foi contrabaixista (aluno de Ray Brown, lenda do instrumento, na norte-americana School of Jazz), musicólogo, jornalista, crítico, radialista, curador de festivais, produtor de discos, professor e palestrante. Mais do que fazer música, confesso sempre, realizava-o “fazer as pessoas saberem ouvir música”. Cumpriu exemplarmente essa missão. Que o diga, por exemplo, Caetano Veloso, que dele recorda “as conversas íntimas e a audição de clássicos da canção popular do mundo”. Zuza viu-os nascer a todos, artisticamente – Elis, Chico, Caetano, Gil e por aí fora. Foi sempre um amigo e uma convivência educadora. Não há ninguém que saiba tanto de música brasileira. Um saber enciclopédico, mas sempre vivido e destinado a fluir, como música, ou não tivesse Zuza aprendido cedo que “suingue é aquele balanço que não está na pauta”.
A 24 de novembro, a Orquestra Jazz de Matosinhos brinda-nos com um concerto “composto” por Zuza Homem de Mello. Foi dele a escolha das músicas e dos artistas a quem coube rearranjá-las, para que o álbum Músicas Brasileiras, Músicos Portugueses visse a luz do dia. Pela mão da big band nortenha, vamos ouvir Pixinguinha, Tom Jobim, João Bosco, Dorival Caymmi, Moacir Santos e outros clássicos. Um panteão de gente simples, como Zuza. Onde quer que ele esteja, há de estar de ouvidos abertos.