Partitura – Outubro 2024

O Dia Mundial da Música é a porta de entrada em outubro. Celebramo-lo Con Brio, fazendo jus ao título da performance que andará por vários locais da cidade a criar música a partir da paisagem sonora envolvente. Fica dado o mote para um mês frondoso no que toca à oferta musical da Casa: mais de 40 concertos, a que se somam propostas de outra tipologia e atividades educativas. O jazz, como melhor se perceberá lendo o texto da Tónica, é a nota dominante destas folhas de outono em que divulgamos a programação mensal, mas a sua luz não ofusca uma outra realidade que nos apraz registar: a presença massiva – e transversal – de músicos portugueses.

A nossa Sinfónica, por exemplo, sobe ao palco quatro vezes, três delas na companhia de solistas nacionais, sendo que o acordeonista João Barradas e a soprano Eduarda Melo se apresentam em concertos dirigidos por maestros portugueses, respetivamente Joana Carneiro e Nuno Coelho. Obras de criação interna também não faltam nas aparições dos agrupamentos residentes: de Luís Tinoco a Vasco Mendonça (estreia mundial de uma encomenda), passando por Vasco Negreiros, António Pinho Vargas e Sérgio Azevedo, que alimentam o programa Sons Ibéricos, do Coro Casa da Música. De outras áreas, juntam-se nomes como Amílcar Vasques-Dias, Iolanda, Best Youth, João Farinha, Luís Trigacheiro, Duo XL, Carlos Martins, Eduardo Cardinho, Susana Santos Silva, Vera Morais, Mazgani ou Daniel Pereira Cristo.

Referência especial merece ainda a dupla chamada da pianista croata Martina Filjak, primeiro para um recital que assinala a sua estreia no Ciclo Piano, depois para tocar ao lado da Sinfónica num concerto consagrado à música de Maurice Ravel. Já o pianista português Rafael Kyrychenko faz avançar a integral dos concertos para piano de Prokofieff, em mais um programa sinfónico de grande relevo.

Além da vinda de estrelas internacionais de outros contextos da música, como José James, Stacey Kent & Danilo Caymmi, Ara Malikian ou mesmo Leo Middea, considerado uma das maiores promessas da MPB, impõe-se também não esquecer aqui um espetáculo de forte consciência social e ecológica que une o coreógrafo Rui Horta aos Micro Audio Waves, fundindo música, dança e tecnologia.

A terminar, e no âmbito das sempre estimulantes propostas do Serviço Educativo, chamamos a atenção para uma nova edição do Porto Electronic Music Symposium (PEMS), subordinada ao tema “Tecnologia para Humanos”. São dois dias de concertos, oficinas, mesas redondas e outros eventos, tudo de entrada livre (mediante inscrição), explorando formas através das quais as novas tecnologias podem resultar em experiências que nos aproximam dos outros e de nós próprios.

TÓNICA

Outono em Jazz 2024

DE QUE FALAMOS QUANDO FALAMOS DE JAZZ?

Esta é uma pergunta que acompanha a natureza expansionista de um género aberto a quase todas as influências culturais. Será então o jazz uma maria-vai-com-as-outras? Ou uma procura incessante do horizonte por parte de espíritos artísticos pouco propensos a cristalizar-se numa identidade? Ou tantas coisas no meio e à volta disso? Seja o que for, não parece que a demanda de lhe definir limites conceptuais esteja fadada ao sucesso ou sequer que tenha pertinência. A liberdade constitui o jazz, o amor constitui o jazz, e não há casal que encaixe melhor na perspetiva romântica de se ser feliz para sempre. Longa vida, pois, a esta borboleta que vemos pousar em todas as flores e absorver delas as cores e os perfumes mais distintos para nos surpreender e encantar no voo, fazendo cair sobre nós a consciência do erro que é querer tê-la entre os dedos.

NÃO HÁ BARREIRAS PARA O ACORDEÃO DE BARRADAS

João Barradas é um dos mais conceituados e amplamente reconhecidos acordeonistas europeus da atualidade, movendo-se entre a música clássica, o jazz e a música improvisada. Venceu alguns dos mais prestigiados concursos internacionais, incluindo o Troféu Mundial de Acordeão (duas vezes), a Coupe Mondiale, o Concurso Internacional de Castelfidardo e o Concurso Internacional Okud Istra (Croácia). Figura de topo do acordeão contemporâneo, estreou dezenas de peças escritas para ele ao longo dos anos. Além disso, realiza também trabalho de pesquisa, transcrição e composição de música original para o seu instrumento. Foi o primeiro acordeonista de sempre a apresentar-se em recital em salas como a Konzerthaus de Viena, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Festival d’Aix-en-Provence, sendo solista convidado das mais prestigiadas orquestras.

NÃO HÁ BARREIRAS PARA O ACORDEÃO DE BARRADAS