Convite à Dança

Mover o corpo de modo cadenciado, mover-se de forma oscilante ou a girar, não estar firme ou ter muita folga, ser volúvel.

São definições do dicionário sobre ‘dançar’, mas elas pouco nos revelam sobre essa misteriosa força que nos invade ou electrifica e muito menos sobre a sensação que se instala quando nos deixamos atravessar por ela. Não obedece às nossas leis e regras inventadas, não pede licença para entrar: quando damos por ela já estamos a abanar um pé, outro, as pernas, os braços, a cabeça ou tudo junto. A solo, em grupo ou a par, a dança está lá desde tempos imemoriais, presente nas diferentes culturas que codificam os seus próprios passos e os transformam muitas vezes em gestos de pertença, de resistência e de identidade.

E é precisamente o calor da dança que dá o mote para o regresso às noites e dias que começam agora lentamente a arrefecer. A Orquestra Sinfónica abre a pista com um programa revelador do profundo fascínio de Stravinski pela dança. A música da impactante Sagração da Primavera carrega o palco da Sala Suggia com a energia telúrica associada aos rituais pagãos, da qual não conseguimos dissociar a célebre coreografia de Diaghilev. É um exemplo de uma combinação explosiva entre música e dança (e também figurinos e cenário), que causou um verdadeiro escândalo na estreia, com polícia pelo meio a tentar acalmar os ânimos de um público mais do que chocado. Segue-se um final de tarde protagonizado pelo Remix Ensemble, com uma peça de Georges Aperghis “animada por um desejo sublimado de dançar” e ainda uma partitura para ensemble e dança onde o compositor Arnulf Herrmnann explora as ideias de aceleração, proximidade e distância. Este programa conta também com Alex Paxton na condição de solista e compositor, ele que é um dos artistas mais desafiantes e enérgicos dos nossos dias. O cheiro das danças tradicionais inglesas chega-nos pelas vozes do Coro Casa da Música, que trazem o canto dos rouxinóis e a dança das folhas sopradas pela brisa, espiando ainda entre os vales verdes das montanhas os cantos dos jovens amantes.

Já a Orquestra Barroca convida um duo de bailarinos para desvendar as ligações íntimas da dança, levando-nos pela mão até à corte francesa. Uma oportunidade única para ver toda a dança que se esconde afinal nas partituras de alguns dos melhores compositores do Barroco daquele país. Pelo meio, a dança é outra. Criolo põe-nos a mexer com a sua diversidade musical, levando-nos por géneros que vão do hip hop ao samba, sem esquecer o trap ou o afrobeat. A primeira parte é entregue a uma das grandes revelações da música brasileira, a cantora e compositora baiana Rachel Reis, que vai trazer na bagagem o seu balanço irresistível. Uma noite que encerra em grande no Café com DJ MAM, músico de múltiplas valências que mistura nos seus sets ritmos regionais do Brasil com os mais diversos sons globais.

Deixemo-nos dançar!