Voando sobre um Ninho de Música

Hugo Lobo

Tive a sorte de crescer numa loja de música. Podia escolher qualquer instrumento e trocar no dia seguinte, podia rodear-me de música à hora que quisesse e, se o meu pai era professor, tive chance de assistir a aulas e questionar tudo, desde como se escrevia uma tarola na pauta à transcrição de melodias e polirritmos. Talvez por isso tenha escolhido começar pela bateria, admirava o meu pai e ele era o melhor baterista, pedagogo, mentor e impulsionador do meu talento e da minha vontade de aprender. O piano falou mais alto quando comecei a tocar com o meu irmão mais novo, formámos uma banda os dois e tocávamos todo o tipo de repertório, desde as bandas preferidas do meu pai, como Pink Floyd, Eagles, Supertramp, Genesis, entre outras, ao boogie woogie improvisado em cima do palco. Foi por essa altura que recebi o meu primeiro instrumento, um Hammond, órgão esse com que ainda hoje toco em projetos com alguns dos meus músicos portugueses preferidos. Pedro Neves foi o professor de piano que me acompanhou quando entrei para o Conservatório de Música da Jobra. Menciono o nome dele porque foi o meu primeiro contacto direto com a arte do piano jazz e porque muitas vezes dou por mim a refletir sobre citações e ideias que ele me transmitiu. Mudar-me para Lisboa fez com que tivesse a oportunidade de, desde o início, trabalhar e aprender com alguns dos melhores músicos do país. Vi todos os concertos que podia, ia a todas as jams e marquei todo o tipo de sessões. Encarrilhou-se tudo quando assegurei a jam da Fábrica Braço de Prata, onde aproveitei a oportunidade para convidar todos os músicos que admirava para tocarmos juntos, não repetindo nenhum trio e aprendendo com todos um pouco. A re- gularidade dos concertos começou pouco tempo depois. Foi no último ano que tive a primeira experiência de gravação em estúdio. Gravar com músicos como o guitarrista Bruno Santos ou com a banda Mr. Monaco – que me deu o privilégio de gravar algumas composições originais – foi o que delineou o início da minha discografia. Guardo algumas das minhas composições para gravar no final deste ano com o meu trio, parte das quais vamos apresentar neste espaço tão histórico e onde muitos dos meus heróis já tocaram. Ao longo do tempo, a minha visão da música foi alargando, conheci o fado em Alfama, o Indie nos festivais, a MPB em sessões e discos, o pop em concertos e o hip hop quando me preparava para tocar com o artista Slow J. E se tudo parecia tão distante da quantidade de jazz que eu consumia, a música passou a ser uma só. Aos 21 anos vejo-me com a mesma paixão pela música que aquele miúdo de 7 anos na loja do seu pai. Estão por vir os discos, estão por vir os projetos, estão por pôr em prática algumas ideias e conceitos, mas até aqui tenho tido a sorte de conhecer e trabalhar com músicos e artistas que me motivam a ser melhor todos os dias.