O MAESTRO, O COMENTADOR E A OBRA-PRIMA ABSOLUTA

A Solo
José Eduardo Gomes

A Casa da Música faz parte do meu crescimento musical, das mais variadíssimas formas, quer logo como espectador, quer como instrumentista dos seus agrupamentos residentes e convidados, e mais recentemente como maestro convidado da sua Orquestra Sinfónica.

Recordo a minha estreia, ainda estudante de direção de orquestra, numa masterclass orientada pelo maestro Jorma Panula, corria o ano de 2011. No concerto final, tive a felicidade de dirigir a abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini.

Desde esse momento, tão importante para mim, foram várias as ocasiões em que pisei o palco da Sala Suggia, juntamente com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Todas elas experiências de partilha e cumplicidade, numa sinergia sempre única. Recordo com alegria um concerto de São João em que o meu professor de direção veio propositadamente da Suíça para estar na audiência. Lembro-me bem de que a sua presença despertou em mim um misto de nervosismo e calma. A vida é mesmo um conjunto de momentos que gravamos na nossa memória.

Em setembro de 2014 vivenciei outro acontecimento especial: o concerto na Avenida dos Aliados, onde a música vai ao coração da cidade. Não há melhor recompensa do que ver o rosto luminoso das pessoas que, aos milhares, enchem os Aliados ano após ano.

A propósito dos próximos concertos em que vou dirigir a Orquestra Sinfónica, nos dias 23 e 25 de fevereiro, posso dizer que teremos um repertório resplandecente, com uma dupla homenagem a Portugal: a primeira sinfonia de João Domingos Bomtempo e a presença do destacado oboísta Roberto Henriques como solista na música de Gaetano Donizetti para corne inglês. E não podíamos escolher melhor companhia do que o génio de Bona, Ludwig van Beethoven, e a sua luminosa e poderosa sétima sinfonia.

Sobre esta partitura em particular teremos um Concerto Comentado, onde me cabe o privilégio de assumir o duplo papel de maestro e comentador e, por inerência, o desafi o de saber mudar de chip entre a arte de comunicar com o público e com a orquestra. Uma experiência que antecipo, sem dúvida, como gratificante e enriquecedora.

Relativamente à sétima sinfonia, uma das curiosidades maiores é a mestria de Beethoven no crescendo orquestral, nomeadamente no seu segundo andamento, “Allegretto”, que aquando da estreia, em 1813, teve tanto sucesso que viria a ser repetido no fim.

Este Concerto Comentado será um momento de completa comunhão com o público onde terei a oportunidade de partilhar igualmente sensações e experiências pessoais a respeito desta obra-prima absoluta da História da Música. Vemo-nos na Sala Suggia!

— JOSÉ EDUARDO GOMES